CAPOEIRA E POLÍTICA: De Que Lado Você Está?

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[:pb]

CAPOEIRA E POLÍTICA: De Que Lado Você Está?

A foto te revoltou? Trouxe angústia? Reflexão? Ou te soa como desrespeito pela memória dos mestres?

Capoeirista não se mete em política?

As eleições de 2018 polarizaram o Brasil e consequentemente o mundo da Capoeira. Amigos de longa data brigam por motivações éticas ou partidárias de uma forma jamais vista, levando desunião a classe dos capoeiristas, que seria historicamente neutra em relação à política.

Será que isso é verdade? Vejamos se a Capoeira realmente se absteve de um papel político ao longo da História.

Século XIX

No século XIX inúmeros capoeiras foram presos por desordens ou resistências ante às forças imperiais. Muitos faziam parte destas mesmas forças ou de grupos politicamente atuantes, como as maltas, que “pintavam e bordavam” nas épocas das eleições, ditando o destino dos partidos Conservador ou Liberal.

A importância política da Capoeira foi tão grande que a criminalizaram no artigo 402 do Código Penal Republicano de 1890.

Século XX

Somente na reforma do Código Penal de 1940 a Capoeira saiu da ilegalidade, inaugurando uma nova era de relações com a política.

Em 1953, apenas um anos antes de se suicidar, Getúlio Vargas aperta a mão de Mestre Bimba, solidificando simbolicamente o viés nacionalista que passa a encarar a Capoeira como parte fundamental da construção do “novo homem brasileiro”.

Uma década mais tarde, em pleno regime militar, a Força Aérea Brasileira utiliza seus aviões para trazer mestres de todo o Brasil ao I e ao II Congressos Nacionais de Capoeira, que pretendiam organizar e unificar a arte como desporto nacional.

 

Século XXI

Pulando para os anos 2000, temos pela primeira vez na História o reconhecimento oficial do Ministério da Cultura, com uma linha de financiamento exclusiva, o Programa Capoeira Viva, idealizado pelo ex-ministro Gilberto Gil. Este programa reconhecia o valor político da Capoeira como resistência cultural negra, e não somente como desporto.

Ainda recentemente podemos lembrar de diversos momentos em que candidatos se aventuram em rodas de Capoeira, reconhecendo nela uma possível plataforma de arregimentação de votos. O vídeo em que o candidato Haddad entra numa roda viralizou na internet.

 

Será que capoeirista não se mete em política?

A Capoeira sempre foi arma política. A cultura negra sempre resistiu politicamente e teve com o poder relações diversas. Nagoas e Guaiamuns não se matavam nas ruas da capital do Império do Brasil por pura diversão. Políticos proibiram, instrumentalizaram, apoiaram e jogaram Capoeira em momentos diferentes da História. Capoeiristas se posicionaram politicamente ao longo do tempo, enfrentando, aliando-se ou subvertendo a ordem vigente. Hoje não é diferente.

Estamos vivendo um momento político extremamente sensível, no qual uma cultura historicamente oprimida não pode se abster de posicionamento.

Mas não é desrespeito com a imagem dos mestres?

Desrespeito com a memória dos mestres, homens negros que viveram e morreram defendendo uma cultura afrodescendente, é ver capoeiristas votando em político que os compara com animais.

Desrespeito é ver capoeiristas apoiando quem diz que vai extinguir o Ministério da Cultura.

Desrespeito é ver capoeiristas defendendo quem humilha mulheres no momento em que estas estão crescendo em número e em força na Capoeira.

Se a força da ancestralidade vive em cada capoeirista, essa força ginga, se revolta e grita: ELE NÃO!!!

Ferradura

*****Mudança no texto*****
Este texto já estava pronto para sair quando apareceu a triste notícia de que Mestre Moa do Katende, um dos maiores mestres da nossa cultura popular, foi covardemente assassinado por sua postura antifascista. Infelizmente, o dia começou assim.

Um pouco de cada capoeirista morre esfaqueado hoje! Mas não morrem as ideias de Mestre Moa, representante da cultura negra e da postura política necessária.

DESRESPEITO É SE DIZER CAPOEIRA E TER AJUDADO UMA CULTURA QUE ASSASSINOU MESTRE MOA!

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Após escrever este texto, fiz alguns vídeo no Facebook sobre o assunto. Acompanhe aqui:

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