[:pb]AS 5 MAIORES POLÊMICAS DA CAPOEIRA – 2017[:en]CAPOEIRA: VIOLENCE, SEX AND GOSSIP[:]

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AS 5 MAIORES POLÊMICAS DA CAPOEIRA – 2017

O ano de 2017 marcou o uso das redes sociais como meio de difusão das mais variadas discussões.

Como nunca antes na história da Capoeira as pessoas estão debatendo, trocando informação, se indignando e discutindo.

Levantamos algumas das maiores polêmicas que rolaram neste ano, procurando lançar um olhar reflexivo sobre elas.

Vamos lá, por ordem de chegada:

NÚMERO 1: RED BULL PARANAUÊ

Quer saber o caso todo da Red Bull? Leia AQUI 

A entrada da Red Bull como organizadora de um evento de Capoeira provocou um rebuliço gigante no mundo da Capoeira. A empresa não foi a primeira gigante a utilizar a Capoeira nas suas ações de marketing. Outras dezenas de marcas já vincularam suas imagens a nossa arte para vender produtos que vão de água a absorvente íntimo, de telefone a festa erótica.

Peça publicitária de rede de TV Britânica

“Me dê um homem após a meia-noite” – Propaganda de festa erótica com a Capoeira

Então por que o escândalo com a Red Bull?

Bom, parte da grita pode ser creditada ao fato de que nos últimos anos a Capoeira saiu das graças da mídia. Houve uma época em que as movimentações características do jogo haviam virado coqueluche na tela da TV, aparecendo em filmes como “Cat Woman”, “11 homens e um segredo”, “Harry Potter”, “Matrix” e dezenas de outros filmes de sucesso, jogos eletrônicos e propagandas de produtos.

Essa época passou

O fato desta época ter passado pode ter feito com que muita gente antiga tenha se desacostumado de ver a relação que o mercado uma vez estabeleceu com a Capoeira.  Como o pessoal mais novo não viveu esta experiência, muitos nem sabem que a Capoeira já foi quente na mídia durante uma época.

Outro fator fundamental é que o Red Bull Paranauê foi o primeiro evento grande patrocinado, dirigido e organizado por uma empresa privada, com o propalado intuito de encontrar “O capoeirista mais completo do Mundo”.

Não era um evento de um mestre, um grupo ou uma federação e sim de uma gigante do setor de bebidas.

A ideia de que uma empresa privada utilizar comercialmente a Capoeira ditando as regras do jogo mexeu com os brios de muitos capoeiristas.

Os a favor

Muita gente curtiu o evento e ressaltou coisas positivas, como a curadoria e o julgamento sendo feita por mestres de renome, e não “cartolas” ou empresários de fora do mundo da arte.

A visibilidade que um campeonato deste porte trouxe à Capoeira também foi um ponto forte levantado pelos apoiadores.

Por último, os próprios participantes do desafio elogiaram o evento e foram unânimes em falar sobre o clima de camaradagem e valorização dos mestres antigos.

Os contras

Outros fizeram críticas, dizendo que o evento seria o “início do fim da Capoeira” e que a partir deste momento assistiríamos o mercado engolir a nossa arte.

Alguns disseram ainda que os jogos em si tiveram baixa qualidade técnica, não podendo eleger nenhum capoeirista como “O mais completo” e outros mais reclamaram da falta de visibilidade feminina no evento.

O legado

O Red Bull Paranauê 2017 passou deixando apenas uma lembrança. A empresa se envolve prioritariamente com artes, esportes e jogos que atraem muito mais mídia do que a Capoeira. Para a Red Bull, a Capoeira é uma atração das menores do seu enorme baralho.

Para a Capoeira, o evento trouxe visibilidade e polêmica interna, mas não provocou nenhuma revolução.

Em 2018 o evento irá se repetir. Podemos esperar outra polêmica a caminho.

NÚMERO 2: CAPOEIRA SEM MESTRE

Quer saber o caso todo do Capoeira Sem Mestre? Leia AQUI

No início de 2017 foi lançado um artigo chamado “Capoeira Sem Mestre”, que debatia o fato de milhares de professores de Capoeira pelo mundo inteiro não terem acesso aos mestres e muitas vezes nem mesmo a nenhum tipo de formação presencial com outros capoeiristas.

O artigo falava sobre a criação do papel do mestre de Capoeira ser decorrente de um processo histórico e propunha alternativas de formação educacional complementar para os professores que vivem isolados dos grandes centros onde os mestres se encontram.

Embora todos concordem que há uma enorme quantidade de capoeiristas exercendo o papel de professores de Capoeira sem um preparo básico, muitos se sentiram ofendidos pela possibilidade de se aprender a ensinar com um curso online.

Os contras

Para os críticos, o ensino pela Internet acabaria com a importância do papel de mestre, destruindo o método tradicional de ensino e causando a ruína do sistema estabelecido desde Mestre Bimba e Mestre Pastinha. Os alunos sairiam das suas academias. Os grupos se acabariam.

Os a favor

3200 pessoas de diversos lugares do Brasil e do Mundo se inscreveram no curso online apresentado no artigo. Para eles foi uma oportunidade de agregar conhecimentos oferecidos gratuitamente ao seu repertório. Muitos vivem em locais onde não há mestres que os possam ensinar. Outros são alunos de mestres que não têm a menor ideia de como se deve ensinar crianças, pois nunca foram profissionais da área.

O legado

Os 3200 capoeiristas que se inscreveram no Curso de Formação Profissional proposto pelo Instituto Brasileiro de Capoeira-Educação (IBCE) vieram em busca de mais conhecimentos. Muitos conseguiram terminar o curso. Outros, não.

Milhares de professores de Capoeira seguem precisando de preparação e formação no mundo inteiro e a lista de espera para o curso de 2018 já tem mais de 1000 inscritos. (Quer se inscrever nesta lista? Clique AQUI)

NÚMERO 3: BEIJO NAS NÁDEGAS

Entenda o caso “Beijo nas nádegas” clicando AQUI

 

O caso do “Beijo nas Nádegas” provocou um enorme rebuliço na Internet.

Entendamos o caso: em pleno evento feminino um mestre de Capoeira levanta sua oponente do solo.

Após coloca-la no chão, recebe ataques e a rechaça com um chute nas costelas.

Ela cai no chão, se levanta e aperta a mão, saindo da roda.

Após assistir o vídeo do jogo e receber denúncias das pessoas que estavam sentadas na roda ela se dá conta de que o seu oponente a havia beijado nas nádegas. A história cai na internet e viraliza.

Os contras

Alguns argumentaram que a Capoeira “é assim mesmo” e que uma mulher não deveria ter tentado bater em um homem com o dobro do seu peso e mais velho de Capoeira. As mulheres indignadas estariam de “mi-mi-mi”, vitimizando-se num lance normal de roda de Capoeira.

Outros dizem que imagens como essa sujam a Capoeira e não deveriam ser divulgadas na Internet, pois “roupa suja se lava em casa”.

Os a favor

Muitos praticantes passaram a ameaçar publicamente o autor da agressão, com frases do tipo: “Manda o sujeito aqui na minha roda para ele ver só o que acontece!”. Segundo este raciocínio, a exposição do caso foi boa pois deu a chance de se poder expor o agressor publicamente.

Muitas pessoas acharam também que o caso foi positivo para dar visibilidade à questões como machismo e violência na Capoeira.

O legado

A julgar pela quantidade de ameaças, o sujeito seria rapidamente morto e o mundo da Capoeira teria “aprendido uma lição” para que um caso desse não se repetisse.

A realidade se mostrou diferente.

No restante do ano dezenas de outros vídeos e denúncias pipocaram com outros tipos de agressão. Chutes na cabeça, desmaios e até a morte de um capoeirista em São Paulo vitimado por uma tesoura.

A julgar por outras denúncias, as mulheres tampouco sentem que o mundo da Capoeira se tornou um ambiente seguro e acolhedor, sem machismos e assédios.

Não se fez nenhum congresso ou encontro onde as lideranças da Capoeira se comprometeram a fazer dos seus eventos uma zona livre de violência física, emocional ou simbólica contra as mulheres.

Não foram lançados códigos de conduta expondo claramente quais comportamentos são inaceitáveis dentro do Capoeira e quais seriam as punições para quem incorresse neles.

O caso parece ter gerado muita polêmica e pouca atitude.

NÚMERO 4: O HOMEM-ARANHA

Um evento infantil de um grupo de Capoeira provocou uma enorme polêmica ao colocar um Homem-Aranha lutando contra um suposto malfeitor, na qual o herói da Marvel acaba vencendo seu inimigo com golpes de Capoeira.

Os contra

A questão toda é que o inimigo do Homem-Aranha tinha pele preta. A cor da pele do personagem malfeitor incomodou a muita gente que afirma que a associação entre um homem negro e um personagem bandido reforçaria um padrão de estereótipo racista.

Os críticos levantaram ainda a suposta contradição da reprodução de uma imagem racista dentro de um contexto que em teoria deveria combater o racismo.

Os a favor

Os internautas defensores do evento alegaram que o evento estava divertido e que o “mi-mi-mi” havia tomado conta da Capoeira, tornando o mundo um local “muito chato de se viver”.

Outros alegaram que a grande maioria dos mestres e professores do grupo organizador do evento é negra e somente este fato já mostra que não haveria racismo. Fora isso, o resultado final teria sido muita diversão para as crianças, proporcionando a elas uma experiência inesquecível com a cultura brasileira, fazendo-as valorizar a cultura negra de modo geral.

O legado

No seio desta polêmica se encontra a enorme resistência da sociedade brasileira em debater racionalmente questões relativas à raça. Temas como política de cotas, apropriação cultural, assassinatos sistemáticos de jovens negros (inocentes, policiais, traficantes, crianças), desigualdade social baseada na cor da pele e discriminações diversas sempre provocam reações fortes e polêmicas.

A Capoeira apenas acompanha esta dificuldade de debate.

Curiosamente, se perguntarmos aos capoeiristas de qualquer estilo sobre o racismo, todos vão dizer que são contra, mas a maioria não será capaz de apontar os efeitos do racismo dentro da própria Capoeira.

Há um caminho longo a ser percorrido.

PS – Para uma maior compreensão de como uma atitude ingênua pode reforçar um estereótipo racista sugerimos a leitura DESTE TEXTO

NÚMERO 5: A CAPOEIRA GOSPEL

O lançamento de um post sobre a Capoeira Gospel enfureceu a massa capoeirista. Acusações de apropriação cultural e palavras de ordem contra evangélicos foram a tônica da polêmica.

Os a favor

Os defensores da Capoeira Gospel dizem que estão simplesmente louvando a Cristo e exercendo a sua fé em encontros particulares, onde não ofendem as crenças alheias.

Dizem também que os capoeiristas gospel conseguem chegar onde os outros não chegam, estabelecendo pontes dentro das igrejas e quebrando preconceitos das famílias que anteriormente demonizavam a Capoeira.

Os contra

Os críticos os associam com um movimento maior, que envolveria um projeto de assimilação da cultura negra e a manipulação por políticos da bancada evangélica.

A Capoeira Gospel seria apenas mais uma faceta do racismo brasileiro, tentando apagar a conexão entre a Capoeira e a África e suas tradições, como as religiões de matriz africana.

O legado

Existem algumas questões que seguirão sendo ponto de discussão neste tema.

O que os Capoeiras de Cristo ou a Capoeira Gospel propõem é uma releitura da tradição, excluindo cânticos que citem Orixás ou Santos Católicos e compondo novas cantigas de louvor a Jesus.

Isso suscita algumas questões:

Uma primeira temática é que os capoeiristas tradicionais seguirão tendo uma enorme resistência a essas modificações, pelo simples fato da Capoeira ser uma arte que se baseia na repetição das tradições.

Um segundo problema é que existem correntes pentecostais que são historicamente alinhadas com a opressão contra a cultura de matriz africana. Não são poucos nem distantes os ataques a casas de Candomblé ou Umbanda no País incentivados por segmentos pentecostais.

De acordo com os críticos, em última instância um capoeirista gospel estaria se posicionando politicamente ao lado dos que atacam a cultura negra e consequentemente lutando contra a própria Capoeira.

E um último problema é que segundo os críticos, o capoeirista gospel estaria alinhado com a bancada evangélica no governo, juntamente com os apoiadores da bancada ruralista, a das armas e outras linhas de direita.

O que é certo é que o crescimento do movimento pentecostal no Brasil está trazendo mais capoeiristas gospel e que o debate não acabou.

Sendo a Capoeira um cultura popular, não é de se estranhar que ela e a religião evangélica estejam ocupando os mesmos espaços e tendo que dialogar, pois é no seio do povo que os pentecostais têm sua força.

Conclusão

Processos complexos não podem ser respondidos de maneira simples e os assuntos acima, antes de serem causa, são sintomas de questões muito mais profundas envolvendo assuntos delicados por natureza: envolvimento da cultura popular com cultura de massa; rompimento de paradigmas educacionais; sexismo, machismo e violência contra a mulher; racismo, religião e apropriação cultural.

As polêmicas estão aí e 2018 tem tudo para ser um ano de grandes debates.

Axé!

Mestre Ferradura

PS – Assista o vídeo e deixe sua opinião nos comentários abaixo! Compartilhe e participe dos debates você também!

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